into-the-wild.jpg?fit=960%2C421&ssl=1

Correr em trilhos – trail running – é algo que o ser humano faz desde sempre, mesmo quando vivíamos nas cavernas. Primeiro que tudo, nessa altura não havia estradas nem agricultura, logo, basicamente tudo era mato e os locais de passagem habituais iam ficando mais desgastados com as pisadas e crescia menos erva. Esses caminhos eram, portanto, senhores e senhoras, os trilhos!

Num pequeno exercício de imaginação, calculo que mesmo na pré-história não fosse agradável levar com a água da chuva no pêlo, por mais pêlo que pudéssemos ter. Eu olho bem para a minha cabra Myrcella quando chove e ela não gosta de chuva! Ora, quando chovia, o ser humano corria; para caçar, não era com a sua força que apanhava um veado, por isso, para caçar, o ser humano corria; o homem que prometia que chegava a casa antes do pôr do sol para limpar a caverna antes do jantar, corria ainda mais! Muitos anos depois, a lenda da origem da Maratona, coloca o soldado Fidípides a correr a distância de 42km, entre as cidades de Maratonas e Atenas, para avisar os atenienses que os persas vinham lá. Para passar o exército persa terá que ter corrido por montes e vales, mato e ribeiros e mesmo que tenha posto um pé na estrada, duvido que hoje se chamasse propriamente estrada. Fidípides era um trailrunner e é com grande alegria que hoje posso dizer que também sou!

 

Ouvi falar desta modalidade através do blogue do meu amigo José Guimarães – De Sedentário a Maratonista – e os meus olhos brilhavam quando lia algo sobre correr no monte! Era um misto de “como se fosse possível andar a correr distâncias dessas em sítios onde mal se põe um pé…” com “tão lindo!! <3“. A primeira vez que me vi a participar numa prova de trilhos…. senti-me um miúdo, algo espiritual, viajei para um lado qualquer, parecia que não estava em mim, como se estivesse ligado a uma corrente elétrica qualquer. Recentemente, depois de muitas mudanças na minha vida, conheci um homem extraordinário – Manuel Maneira – que se referia à sociedade como cheia de pessoas que escolheram desligar-se do mundo e nestas palavras percebi o que senti nesse dia. Voltei a ligar-me ao mundo e à natureza. Estar ali era o lugar de onde nunca devia ter saído!

E desde que corro em trilhos, a minha vida é mais bonita. Fui a sítios onde nem a pé pensava ser possível ir e a outros que nem acreditava que existiam. Conheci uma multidão de gente que partilha, cada um à sua maneira, da mesma ligação à natureza. Participei em provas mais e menos longas e quero continuar a fazê-lo por muito tempo. Os trilhos levaram-me a descobrir locais, sim, mas também muito sobre mim próprio e sobre a humanidade. Para mim, a vida faz mais sentido se estivermos ligados ao planeta em que vivemos, se percebermos a fundo como funciona e como dependemos dele e, de certa forma, que somos mesmo como ele.

Não é o meu objetivo passar a mensagem de que apenas nos trilhos podemos sentir realização no exercício físico. Conheço pessoas fantásticas que o sentem em atividades completamente diferentes. O que eu gostava era mesmo que cada um descobrisse o que o faz ser mais e se agarrasse a isso. O mundo seria melhor!     

 


Leave a Reply

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.


Copyright Gustavo Faria 2018. Todos os Direitos Reservados.